sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Resoluções de Ano-Novo



Algumas estruturas cerebrais são responsáveis por “chamar a atenção” de outras áreas para as boas ideias




Todo fim de ano é a mesma coisa: promessas, promessas, promessas. Aproveitamos o marco temporal da mudança de calendário para prometer a nós mesmos finalmente fazer aquele regime, voltar à ginástica, arrumar a estante, aprender outra língua, saldar as dívidas. A intenção é das melhores, sem dúvida – mas a maior parte das resoluções dura pouco, e logo as abandonamos e ficamos só na proposta, até começar tudo de novo no ano seguinte. Por que gostamos tanto de tomar resoluções de ano-novo e por que é tantas vezes difícil cumpri-las?
Acredito que a resposta esteja contida em uma frase que li em uma delegacia em Joanesburgo (não, eu não tinha feito nada errado nem sofrido um crime; estava apenas acompanhando um amigo em uma questão burocrática a resolver). Como parte do programa de melhora no desempenho dos policiais, uma folha de papel colada à parede lembrava aos funcionários, em letras enormes: “Um objetivo sem um plano não é mais que um desejo”.

A frase ficou comigo, pois resume quase poeticamente a essência da nossa capacidade de dirigir o próprio futuro: a possibilidade de nosso cérebro identificar uma vontade (algo cuja simples antecipação nos dá prazer desde já, e portanto motivação suficiente para seguir adiante), transformá-la em objetivo (uma meta a ser alcançada, como um ponto no horizonte a guiar nossos passos), e então tecer uma estratégia para chegar lá (um programa motor ou mental, como uma sequência de passos a serem seguidos para atingir o horizonte). Sem desejo não há objetivo; sem meta não há plano; e sem um plano só se chega ao objetivo por acaso, se tanto.

O interessante é que desejo, objetivo e estratégia são produtos de três sistemas diferentes do cérebro, que operam de maneira bastante autônoma, porém integrada. Antecipar prazeres, caber de novo dentro daquele vestido, saber falar a língua do país que você vai visitar ou ter um dinheirinho sobrando no banco é função das estruturas do sistema de recompensa e motivação, como o estriado ventral, a área tegmentar ventral e o córtex orbitofrontal. Essas regiões sinalizam para o resto do cérebro aquelas informações ou ideias que são mais interessantes que as demais e, portanto, vale a pena serem seguidas.


Estabelecer objetivos, por sua vez, é função principalmente das partes mais frontais do córtex, aquelas capazes de direcionar nossas ações em prol de um alvo mesmo que ainda não visível, mas já visualizável e desejável mentalmente. Na etapa seguinte é preciso que as ações musculares ou mentais (na forma de pensamentos) sejam selecionadas e organizadas em sequências que nos levem ao objetivo – como programas motores em que os movimentos certos são escolhidos e preparados para ser executados na ordem certa e na hora certa. Esse programa motor ou mental é a estratégia, cuja elaboração e execução dependem da interação entre córtex e núcleos da base – mas somente é executada sob direção de um “objetivo pré-frontal” e com o empurrãozinho da antecipação do prazer de chegar lá. Primeiro organizar seus horários e depois fazer uma pesquisa para poder escolher o melhor curso de italiano, por exemplo, em vez de se matricular em qualquer um e ver no que dá, de fato aumenta significativamente suas chances de seguir o curso até a hora da viagem.

Tomar resoluções de ano-novo ou de segunda-feira é fácil; basta um desejo. Transformá-las em realidade, contudo, exige estabelecer claramente uma meta (razoável, por favor!) e tecer estratégias para chegar lá. A boa notícia é que seu cérebro é capaz das três coisas. Feliz ano-novo para você!


                                                                                                                                                                         Edição 216 - Janeiro 2011

por Suzana Herculano-Houzel 
(neurocientista, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro)




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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O VALIOSO TEMPO DOS MADUROS - Mário de Andrade

Hoje, deparamo-nos com este texto de Mário de Andrade e nos lembramos de como ele é significativo e importante... acreditamos que a cada momento de vida cabe uma compreensão diferente e a cada história... caberá...


APROVEITEM!!!




O VALIOSO TEMPO DOS MADUROS
Mário de Andrade


Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver  daqui                                                    

para a frente do que já vivi até agora.

                      Tenho muito mais passado do que futuro.

Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas..

As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam

poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.

Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.

Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram,

cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir

assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar

da idade cronológica, são imaturos.

Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo

de secretário geral do coral.

‘As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos’.

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência,

minha alma tem pressa…

Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana,

muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com

triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade,

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,

O essencial faz a vida valer a pena.

E para mim, basta o essencial

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Aos Nossos Parceiros

Agradecemos aos nossos amigos, pacientes, e parceiros, pelo ano que juntos tivemos pela confiança em nós depositada e pelo respeito com que sempre fomos tratados.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Receita de Ano Novo - Carlos Drummond Andrade



Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)


Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.


Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.




quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Fechamento da Programação Anual de Palestras SEDES HABILITARE E COLÉGIO CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

A Sedes Habilitare, nesta última terça feira, encerrou sua programação anual no Colégio Carlos Drummond de Andrade. Fomos parceiros,  durante o ano de 2010, numa proposta ousada, valorosa e bem sucedida. Foram oferecidas 12 palestras para pais e para alunos instaurando uma cultura de valorização do conhecimento como agente transformador nos ambitos pessoal e social.

Agradecemos ao Colégio Carlos Drummond de Andrade pela aposta, atenção e eficiencia com que sempre nos atendeu.

Agradecemos aos pais de seus alunos e a cada aluno que com sua participação e suas sugestões nos estimularam a apresentar um trabalho sempre melhor.

Agradecemos pela liberdade de escolher para cada palestra uma abordagem diferente das habitualmente apresentadas o que garantiu o sucesso de nossas apresentações e a satisfação durante a preparação de todas elas.


Estes foram alguns dos temas apresentados:

Vocação: Escolha profissional
Plugados no mundo digital
Pais analógicos x filhos digitais
Neurociência: Cabeça de adolescente
Regras: Para que servem?
Entre a liberdade e as regras
Pequenos rebeldes
Bullying: Ação individual ou expressão social?
Drogas: Como afastar os jovens do perigo das drogas
Drogas: Quem manda em você?